Filmes Review - Trilhas Sonoras

Resenha de Trilha Sonora: WARCRAFT – Ramin Djawadi


warcraftCDMúsica composta por Ramin Djawadi, regida por Gavin Greenaway
Selo: Back Lot Music
Mídia: CD
Lançamento: 03/06/2016
Cotação: star_3_5

A fantasia de ação Warcraft: O Primeiro Encontro Entre Dois Mundos (Warcraft, 2016), é provavelmente um dos blockbusters mais arriscados da atual temporada. Baseado numa franquia imensamente popular de jogos eletrônicos (que já se expandiu para livros, quadrinhos e muito mais), sua complicada história começa quando orcs de vários clãs do mundo de Draenor ultrapassam um portal criado por magia negra pelo sinistro Gul’Dan (Daniel Wu) para fugir de seu planeta moribundo e vão parar no reino fantástico de Azeroth. Lidando com essa nova invasão estão o poderoso cavaleiro Anduin Lothar (Travis Fimmel), o rei de Azeroth Llanne Wrynn (Dominic Cooper) e dois magos, o misterioso Medivh (Ben Foster) e o jovem Khadgar (Ben Schnetzer), que se aliam a Garona (Paula Patton), uma guerreira metade orc, metade humana. Do lado dos orcs, o nobre chefe do Clã Lobo Congelado Durotan (Toby Kebbel), para proteger sua esposa Draka (Anna Galvin) e seu filho recém-nascido, deve forjar uma aliança com os humanos para derrotar Gul’Dan e alcançar a paz entre as duas raças.

Dirigido por Duncan Jones, um fervoroso fã da franquia, o longa tinha a missão de quebrar a “maldição” que cai sobre todos os filmes baseados em games, que, invariavelmente, ora são filmes trash de qualidade risível, ora grandes fracassos hollywoodianos, apesar de seu orçamento gigantesco e estrelas no elenco. Infelizmente, Warcraft deverá se juntar aos filmes do segundo grupo, já que, assim como longas como Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo (Prince of Persia: The Sands of Time, 2010) ou os dois longas da série Tomb Raider estrelados por Angelina Jolie, nem seus efeitos especiais de última geração foram capazes de salvar seu fraco roteiro e direção sem inspiração.

Antes da estreia, o ambicioso Jones (filho mais velho do falecido músico David Bowie, e também um talentoso cineasta por si próprio), declarou que sua intenção com Warcraft era produzir uma mistura de Avatar (idem, 2009) com a série Game of Thrones. Assim, ele resolveu ir atrás do próprio compositor da produção de fantasia da HBO, Ramin Djawadi, para musicar seu longa, o que foi ajudado pelo fato de que, desde Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013), o sujeito tem feito a trilha para alguns filmes da produtora Legendary, como Drácula: A História Não Contada (Dracula Untold, 2014) e o futuro The Great Wall. A notícia foi recebida com certa decepção pelos fãs da franquia de jogos, que queriam ver um dos (numerosos) compositores envolvidos com os games escrevendo a trilha, embora, por outro lado, o trabalho de Djawadi em épicos de grande escala como Fúria de Titãs (Clash of Titans, 2010) e a própria Game of Thrones o tenham capacitado pAra um trabalho como Warcraft.

Devo admitir que não conheço quase nada da música para os jogos da série (e suas expansões), escritas por um time imenso que inclui compositores como Russel Brower, Jason Hayes, Neal Acree, Glenn Stafford, Jeremy Soule, e vários outros. Por outro lado, ela parece ser bem querida entre os fãs da saga por seus tons épicos e extremamente grandiosos. Djawadi, por outro lado, foi numa direção diferente: sua música para Warcraft parece ficar no meio do caminho entre seu score mais intimista e menos chamativo para Game of Thrones e sua trilha mais grandiosa para Fúria de Titãs – escrita quando ele ainda era um compositor mais inexperiente que, como todo jovem músico da Remote Control, tentava a todo custo emular seu mestre Hans Zimmer. Isso, claro, pode desapontar tanto os fãs das trilhas dos games quanto aqueles que esperavam algo como Gladiador (Gladiator, 2000) ou Rei Arthur (King Arthur, 2004).

Do meu ponto de vista, penso que isso representa uma evolução na maturidade de Djawadi como compositor e, melhor ainda, o caminho para a consolidação de um estilo próprio (algo difícil de atingir se você trabalha para a RC). Além disso, a trilha de Djawadi funciona muito bem no filme, adicionando o drama necessário às cenas, ao passo em que seu trabalho em Game of Thrones lhe deu a experiência necessária para criar a música para produções passadas num universo de fantasia, com temas musicais identificando a personalidade de cada personagem. Comparando com seu trabalho anônimo e esquecível em Fúria de Titãs, quando era possível sair do cinema sem sequer se lembrar da música, isso já representa um grande avanço.

O disco lançado pela Back Lot Music, entretanto, apresenta o score de maneira um pouco estranha: boa parte de suas faixas não são exatamente cues ouvidos no longa, mas sim suítes dos vários temas de Djawadi para o filme. Isso pode não significar nada se você é do tipo que está procurando apenas um bom disco de trilhas sonoras para ouvir, porém, se você saiu do filme ansioso para escutar fora dele aquele cue marcante, bem, talvez não o ache aqui. Mesmo assim, não deixa de ser uma opção estranha do compositor. Tal estratégia costumava ser mais comum no passado, quando o pouco tempo disponível nos discos de vinil ou CDs, aliado à falta de vontade dos estúdios em produzirem seus álbuns de trilha sonora apenas com os scores, levava a discos que continham apenas algumas suítes representando a partitura original. O caso de De Volta para o Futuro (Back to the Future, 1985), por exemplo, é emblemático dessa era.

Cada suíte no disco é dedicada a um tema. Dentre elas, Warcraft apresenta o tema principal do longa, uma melodia orquestral conduzida por trompas e trombones e que poderia ser um dos temas do sujeito para Game of Thrones, apesar do som mais “encorpado”, por assim dizer. Em seguida, The Horde traz o motivo dos orcs, que inclui percussão tribal, gritos de guerra no coro e instrumentos de sopro exóticos, enquanto Medivh apresenta o tema do mago, uma melodia misteriosa, enigmática e cíclica que aparece ora na orquestra, ora apenas na harpa. De certa forma, esse é o tema mais desenvolvido de todo o score: participações posteriores dele em faixas como The Beginning, The Book e My Gift to You mantém seu senso de mistério e encantamento com o sobrenatural do mago, e mesmo suas performances posteriores não perdem essa característica.

Honor, o tema de Durotan, inclui um leve acompanhamento eletrônico e uma flauta tribal acompanhando a orquestra numa faixa que, ainda que trazendo o exotismo da música dos orcs, também dá a ela um ar apropriadamente dramático e nobre para o protagonista. Falando em heróis, Lothar traz o tema do principal campeão dos humanos, uma melodia para cordas repleta do heroísmo e da altivez do personagem, enquanto Strong Bones é uma faixa triste para sopros representando a guerreira Garona. Por outro lado, Gul’Dan é o tema do vilão, interpretado por trombones, percussão, flautas tribais e coros de guerra que deixam claro sua malevolência.

O disco também inclui uma porção da música de ação do longa. Forest Ambush mistura o motivo dos orcs e o tema principal num cue por vezes brutal, e que também inclui uma breve participação do tema do mago Medivh aos 1:50. Mais adiante, Victory and Defeat faz jus a seu nome: ela se inicia com uma versão heroica da fanfarra dos humanos de Azeroth, porém, pouco a pouco a música se torna mais dramática e passa a apresentar uma variação trágica do tema de Lothar, representando a principal tragédia sofrida pelo personagem no longa. Já Two Worlds Colliding, como diz o nome, traz o embate entre a música dos orcs e a dos humanos, com o tema principal aparecendo aqui e ali, embora o cue, infelizmente, seja um pouco caótico, sem direção e não esteja muito distante da típica música de ação da Remote Control – estivesse Djawadi musicando um filme do Batman ou dos Transformers, é provável que o resultado não fosse muito diferente. Na sequência, The Incantation traz o tema de Medivh incorporado à escrita de suspense e ação do compositor, com a orquestra e o coral.

O clímax do longa se dá em Llane’s Solution, a faixa mais longa do disco, que começa com os motivos relacionados aos humanos de Azeroth em fanfarras heroicas, mas que logo são engolidos pela música dos orcs, levando a um final trágico e dramático. Ele continua em Mak’Gora, um cue mais solene, com performances tristes dos temas de Lothar, dos orcs e de Garona, para o melancólico fim do longa (que, como não poderia deixar de ser, se encerra com a deixa pra continuação).

Os momentos mais dramáticos da trilha, ainda que relativamente raros no disco, são bem feitos: Half Orc, Half Human é uma bela e triste faixa para cordas, flautas e acompanhamento eletrônico, enquanto Whatever Happens constrói um bom clima de tensão e dramaticidade antes do conflito final entre orcs e humanos combinando orquestra e percussão tribal. Mas talvez a faixa a que provavelmente mais retornarei no futuro é a última: For Azeroth inicia-se de maneira dramática, com performances trágicas de ambos os temas de Lothar e de Azeroth após os eventos do clímax, mas aos poucos a faixa cresce em grandiosidade, finalizando com belas apresentações do tema principal em metais.

O score de Warcraft, assim, não é exatamente nenhuma obra-prima. Se você gosta da música de Djawadi para Game of Thrones, provavelmente apreciará a nova trilha do compositor mais uma vez. Entretanto, quem vier esperando ouvir algo com o poder impactante de algo como O Senhor dos Anéis, sairá decepcionado. Para mim, é interessante ver como Djawadi vem demonstrando maturidade como compositor ao se livrar dos clichês da Remote Control e, aos poucos, criar um estilo que o identifique como músico. Trilhas como Círculo de Fogo e Warcraft são trabalhos interessantes, e que mostram que o sujeito está no caminho certo para, um dia, entregar um score verdadeiramente impressionante.

Faixas:

1. Warcraft 1:58
2. The Horde 3:17
3. Medivh 2:43
4. Honor 4:45
5. Forrest Ambush 3:43
6. Lothar 3:35
7. Gul’dan 3:13
8. The Beginning 2:29
9. Strong Bones 1:34
10. Victory and Defeat 3:02
11. The Book 2:27
12. Two Worlds Colliding 3:22
13. The Incantation 3:43
14. Half Orc, Half Human 1:26
15. Whatever Happens 1:43
16. My Gift to You 2:31
17. Llane’s Solution 7:25
18. Mak’gora 5:01
19. For Azeroth 2:49

Duração: 60:46

Tiago Rangel
[via ScoreTrack.net]

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