Filmes Review - Trilhas Sonoras

Resenha: TRANSCENDENCE – Mychael Danna (Trilha Sonora)


transcendenceCDMúsica composta por Mychael Danna, regida por Nicholas Dodd
SeloWaterTower Music
Catálogo: Download Digital
Lançamento: 15/04/2014
Cotação: ***

Sem exageros, as trilhas de Hans Zimmer podem ser consideradas as mais influentes da atualidade, principalmente a de A Origem. De repente, uma série de compositores de Hollywood, numa tentativa de soarem “modernos”, acabaram por copiar alguns dos elementos daquele score, até mesmo em filmes que não eram de ficção científica. Sendo assim, é razoável esperar que a trilha de Transcendence, um sci-fi que marca a estreia na direção de Wally Pfister, o diretor de fotografia dos filmes de Christopher Nolan (não coincidentemente, o diretor de A Origem) fosse mais uma reedição do trabalho de Zimmer, não é?

Não quando o compositor responsável é Mychael Danna. Vindo de seu primeiro Oscar pela criativa e belíssima trilha de As Aventuras de Pi, o canadense é um dos nomes mais inventivos da música de cinema atual. Assim, de fato sua trilha contém elementos semelhantes com o score de A Origem, porém ela não se contenta em meramente copiar Zimmer (como fazem os Jackmans e Jablonskys da vida) e, num gênero cuja música tornou-se tão previsível, Transcendence soa quase como um respiro de originalidade – quase.

Assim como em As Aventuras de Pi Danna mesclou música étnica e orquestral, aqui ele faz algo parecido ao fundir sintetizadores e orquestra, com destaque para as cordas. As notas são longas, e os efeitos eletrônicos conseguem passar uma ideia futurista, digital, que é justamente o que pede o filme. É quase como se fosse uma versão do século XXI da música de Bernard Herrmann para O Dia em que a Terra Parou, outra influência notável neste trabalho de Danna. Enfim, é uma música discreta, sem grandes arroubos orquestrais ou fanfarras épicas, e que, surpreendentemente, não é de audição tediosa, ou ao menos, não no início do álbum

O disco se inicia justamente com a discrição descrita acima. Alguns temas podem ser notados em faixas como Transcend e Will and Evelyn. Conforme a audição prossegue, ela adiciona certo encantamento, conforme o protagonista interpretado por Johnny Depp tem sua mente transferida para um computador. Desta segunda parte do álbum, o que mais se destaca é um belo e singelo tema, a cargo de um garoto soprano e acompanhamento de cordas, ouvido em You Cannot Say. Uma variação desse tema participará de forma interessante em Healing the Sick. Por outro lado, um bom pedaço dessa parte do álbum contém momentos absolutamente tediosos e de baixo interesse musical, em faixas como Online Now e We Had Crossed the Line. A música nesses trechos não contém qualquer variação interessante, limitando-se a uma ou duas notas longas a cargo de violoncelos e baixos.

Em seu terço final, a música se torna mais tensa e dramática. Seria a oportunidade perfeita para Danna reutilizar as notas bombásticas nos metais como em A Origem (apelidadas pelos críticos americanos de trilhas sonoras de horn of doom, algo como “as trompas da perdição”). Felizmente, ele não faz nada disso, e entrega faixas na qual a tensão é apresentada de forma sutil, como, aliás, toda a música do álbum. A melhor é Why did you Lose Faith?, que foge do padrão do disco ao apresentar a orquestra e os sintetizadores executando uma melodia de ação grandiosa.

Nessa parte final do álbum, também temos alguns momentos interessantes de drama, como em I Can See Everything e Always Was, nas quais, como nos momentos mais dramáticos do score de As Aventuras de Pi, trazem belos momentos a cargo das cordas. Danna, aliás, já provou que sabe escrever muito bem para esta seção da orquestra, e isso fica implícito na trilha de Transcendence.

Ao final da audição, Transcendence é um score com qualidades e defeitos, e cuja sutileza da música pode tornar o disco simplesmente chato de se escutar para muitos ouvintes. De fato, a música poderia ter sido melhor trabalhada, pois, da forma que está, torna este um álbum em que enfraquece a cada audição. Por outro lado, Danna acerta ao não regurgitar as ideias de Zimmer, e tentar fazer algo original, mesmo que inspirado pela trilha do filme de Nolan. E, quando devemos elogiar um compositor simplesmente por não copiar (muito) o score de Hans Zimmer, há algo muito errado com a música de cinema.

Faixas:

1. Transcend 1:16
2. Far from What They Were 1:07
3. Will and Evelyn 2:29
4. Four, Maybe Five Weeks 3:51
5. Building Will 4:15
6. You Cannot Say 2:00
7. Is Anyone There? 2:44
8. Online Now 3:14
9. Reservation Under Turing 1:40
10. Get off the Grid 2:15
11. We Had Crossed the Line 1:36
12. Building Brightwood 2:10
13. Two Years Later 3:03
14. Healing the Sick 4:09
15. Why Are You so Afraid of This? 3:47
16. It’s in the Rain 3:35
17. The Only One He Trusts 2:15
18. Found a Way Back 2:07
19. Why Did You Lose Faith? 4:58
20. I Can See Everything 2:57
21. Always Was 2:54
22. Garden 1:12

Duração: 59:34

Tiago Rangel
[via ScoreTrack.net]

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1 comentário em “Resenha: TRANSCENDENCE – Mychael Danna (Trilha Sonora)

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