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Resenha de Série: A CASA DO DRAGÃO – 1ª Temporada


House of The Dragon – Season 1 (2022)
Elenco: Emma D’Arcy, Matt Smith, Olivia Cooke, Milly Alcock, Paddy Considine, Eve Best, Rhys Ifans, Steve Toussaint, Fabien Frankel, Sonoya Mizuno, Ewan Mitchell, Graham McTavish, Harry Collett, Tom Glynn-Carney, Phoebe Campbell, Nanna Blondell, Bethany Antonia, Phia Saban
Criação: George R. R. Martin, Ryan Condal, Miguel Sapochnik
Direção: Vários
Cotação: 4,0/5,0

ATENÇÃO: caso você ainda não tenha assistido à primeira temporada de A Casa do Dragão, o texto a seguir contém alguns SPOILERS

SINOPSE
Situada aproximadamente 200 anos antes dos eventos de Game of Thrones, a trama acompanha a sangrenta guerra civil que acontece quando os meio-irmãos Rhaenyra (Emma D’Arcy) e Aegon II (Tom Glynn-Carney) disputam o trono dos Sete Reinos após a morte do pai, Viserys I Targaryen (Paddy Considine). Apesar de a princesa ser nomeada herdeira pelo rei, Aegon é o filho homem do casamento de Viserys com a amiga de infância de Rhaenyra, Alicent Hightower (Olivia Cooke), o que acaba gerando uma crescente disputa entre os dois clãs de montadores de dragões sobre quem é o legítimo sucessor do Trono de Ferro.

COMENTÁRIOS
Apesar dos roteiros desleixados das duas temporadas finais, é inegável que Game of Thrones deixou uma marca indelével na televisão mundial. Foi a primeira série de fantasia com temática adulta, que quebrou recordes tanto nas transmissões ao vivo na HBO como em streaming, de vendas de DVD/Blu-ray e até de pirataria, e ganhou um número inédito de Emmys. Assim, era inevitável que o universo literário criado por George R. R. Martin retornasse às telas de alguma forma, e dos vários projetos derivados anunciados desde o encerramento da série principal, A Casa do Dragão foi o primeiro a ser lançado.

Apesar de ser um prelúdio e contar com personagens e elenco diferentes, esta primeira temporada nos dá a sensação de ser, na verdade, um nono ano de Game of Thrones, fato reforçado por manter o estilo da abertura e o mesmo tema musical composto por Ramin Djawadi. Tendo como showrunners Ryan Condal e Miguel Sapochnik (sendo que este dirigiu alguns episódios memoráveis da série original), a produção adapta o livro Fogo e Sangue, que mostra os eventos da guerra civil da família Targaryen conhecida como “A Dança dos Dragões”, ocorrida quase dois séculos antes do reinado de Robert Baratheon. O resultado da guerra já sabemos: o início da queda dos Targaryens e da extinção dos seus dragões.

Esta temporada inicial, em sua quase totalidade, se dedica a apresentar seus personagens principais e mostrar os acontecimentos que levaram à infame “Dança dos Dragões”. Revemos locais conhecidos como Porto Real, Pedra do Dragão e Harrenhal, e a conhecida “Guerra dos Tronos” envolvendo sucessão e filhos bastardos também retorna. Já as cenas de sexo agora não são tão frequentes, gratuitas e explícitas, e não chegam a tirar a imersão da história. Apesar de termos algumas grandes sequências de ação e a aparição de vários dragões, a trama se sustenta basicamente no desenvolvimento dos personagens, onde se destaca o quarteto Viserys/Rhaenyra/Alicent/Daemon. Daemon, aliás, com sua personalidade dúbia e perfeitamente interpretado pelo ex-Doctor Who Matt Smith (na imagem em destaque), roubou quase todas as cenas em que apareceu. Paddy Considine, mesmo sob pesada maquiagem, marcou de forma magistral a despedida do rei Viserys no oitavo episódio. Emma D’Arcy e Olivia Cooke também estão muito bem como, respectivamente, as versões adultas de Rhaenyra Targaryen e Alicent Hightower, porém faço uma menção honrosa para a revelação Milly Alcock, que interpretou a princesa Targaryen adolescente.

Entre as coisas de que não gostei na série está a falta de atenção quanto à (falta de) semelhança física entre os intérpretes das versões jovens e adultas de alguns personagens após os saltos temporais, enquanto aqueles que não tiveram troca de atores/atrizes nem envelheceram. E falando em saltos temporais, achei que alguns deles omitiram coisas importantes – o próprio George R. R. Martin declarou que gostaria que a temporada tivesse pelo menos 13 episódios, de modo a que se pudesse mostrar mais, por exemplo, da vida de Daemon e sua segunda esposa, Laena Velaryon (Nanna Blondell), a primeira montadora da velha dragoa Vhagar. Laena, grávida, morre sem conseguir dar à luz, e sobre isso acho que exageraram ao mostrar tantos partos excruciantes – alguns fatais – do início ao fim da temporada, para reforçar a principal função da mulher na nobreza: a de reprodutora. Por fim, a resolução de alguns elementos da trama foi apressada demais, como por exemplo a morte forjada de Laenor Velaryon, que desde sua incepção até o encerramento não durou dois minutos.

Vhagar x Arrax: uma luta injusta

Felizmente a série compensa essas falhas ao preencher lacunas do livro Fogo e Sangue, acrescentando detalhes e camadas que criam uma perspectiva mais abrangente do que acontece e dão mais nuances às ações dos personagens e suas consequências. Tomemos por exemplo o fatídico confronto, no episódio final, entre os príncipes Aemond (Ewan Mitchell) e Lucerys (Elliot Grihault) em Ponta Tempestade e que acabou sendo o estopim da guerra. Sim, foi Aemond, montando Vhagar, que perseguiu Lucerys (a.k.a. Luke) e o jovem dragão Arrax em busca de retribuição por ter ficado cego de um olho. Mas a morte de Lucerys, no final das contas, só aconteceu porque os dragões não obedeceram seus montadores e se engajaram num combate brutalmente desigual. Podemos ver o arrependimento no rosto de Aemond enquanto os corpos destroçados de Arrax e Luke caem em direção ao mar. E aqui a mensagem fica clara: a trágica “Dança dos Dragões” foi consequência de vários infortúnios e mal entendidos, e os dragões, tidos como a maior fonte de poder dos Targaryen, também foram a causa inicial de sua queda.

Não se sabe ainda quantas temporadas terá A Casa do Dragão (Martin estima que seriam necessárias pelo menos 4, com 10 episódios cada, para adaptar o material de forma adequada), que por enquanto tem apenas seu segundo ano garantido. Ryan Condal já adiantou que, estabelecidos os personagens e preparado o terreno para a “Dança dos Dragões”, a segunda temporada será mais movimentada e épica. Vamos torcer para que a ênfase no grande espetáculo e efeitos visuais não tire a consistência dos roteiros, como aconteceu nas temporadas finais de Game of Thrones. Infelizmente teremos de esperar até 2024 para conferir isso.

Jorge Saldanha

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