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Sci Files: O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU


É impressão minha ou o gênero ficção científica, em sua forma mais pura, ainda sofre mais preconceito por parte da cinefilia e do meio mais prestigiado da mídia do que o horror? Confesso que por muito tempo também não dava muita bola para o gênero, apesar de, sempre que me perguntavam qual o meu filme favorito, responder com 2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO. Mas aí estamos falando de uma obra-prima dirigida por um gênio, uma produção classe A requintada.

Antes da obra de Kubrick, a maior parte das produções sci-fi eram filmes B produzidos na década de 1950 com o intuito maior de serem diversões escapistas, embora todas fossem reflexo do medo da bomba atômica durante a primeira fase da Guerra Fria. E são raros os casos de produções caras para a época, como O PLANETA PROIBIDO, de Fred M. Wilcox, que hoje é visto como camp ou inferior por muitos.

Mas com o passar dos anos fui dando atenção maior a algumas dessas obras, principalmente as que não são assinadas por autores consagrados. E muitas delas são não apenas deliciosas de ver, mas muito inventivas e ricas em significado. O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU (The Incredible Shrinking Man, 1957), de Jack Arnold, está entre os melhores exemplares. Na trama não há disco voador, milagres da ciência ou robôs fantásticos e alienígenas, coisas que se costuma esperar do gênero. Mas temos algo que é bastante comum no ciclo de produções sci-fi da década de 1950, que é a radioatividade como causa de mutações ou destruição da vida humana.

No caso, o herói do filme, Scott Carey (Grant Williams), está descansando em um barco com sua esposa Louise (Randy Stuart), quando uma nuvem misteriosa passa por ele. Dentro de poucos dias ele começa a notar que está ficando menor. Primeiramente ele percebe nas roupas, que começam a parecer mais largas, e depois na altura, quando ele constata que sua estatura está menor que a da esposa. Os médicos não conseguem entender o que está acontecendo com aquele homem, apenas percebem que, de fato, ele está encolhendo.

O curioso desta produção de Arnold é que ele vinha de dois westerns, gênero não muito associado ao diretor atualmente. O que marcou mesmo foi sua incursão na ficção científica e o quanto ele elevou o gênero naquele período, com este filme e com o ótimo A AMEAÇA QUE VEIO DO ESPAÇO (It Came From Outer Space, 1953). E se no filme de 1953 Arnold tinha a história de Ray Bradbury, neste ele tem Richard Matheson no roteiro – dois gênios da literatura de ficção científica juntos na década mais importante para a sci-fi no cinema.

O impressionante desta história sobre um homem que encolhe a cada dia é como a trama é criativa em colocá-lo em situações distintas e em nos deixar admirados com os efeitos visuais inventivos. Há as cenas envolvendo os móveis na casa, a cena em que ele sai e conversa com anões de circo, a cena do gato e as ainda mais dramáticas cenas no porão, quando o filme nos leva para a solidão imensa do herói, agora tido como morto pelo gato de sua casa e tendo que enfrentar aranhas e ameaças daquele novo mundo.

Além de tudo, há a questão envolvendo o sentimento de extrema vulnerabilidade e de impotência do personagem (inclusive no primeiro terço), que faz com que ele ganhe contornos psicológicos mais profundos. E o que é aquele desfecho emocionante e trazendo uma espécie de esperança que não parece coincidir com o gosto amargo que sentimos, próximo de uma profunda indignação pelo destino do herói?

O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU foi lançado no Brasil no box de DVDs Clássicos Sci-Fi – Anos 50 (volume 1), que conta com quase uma hora de extras sobre a produção, incluindo uma gostosa conversa com o diretor Joe Dante.

Ailton Monteiro

1 comentário em “Sci Files: O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU

  1. Alberto machado pereira

    Acho que a ideologia aflorada na cinematografia está matando a genialidade que existia no cinema sinto muito mas a geração chocolate com musse está destruindo o cinema e isto não terá volta a te talvez uma revolução como a de 30 e 40

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