Review - Filmes

Resenha de Filme: A VASTIDÃO DA NOITE


The Vast of the Nigh, EUA, 2019
Gênero: Ficção Científica
Duração: 89 min.
Elenco: Jake Horowitz, Sierra McCormick, Gail Cronauer, Bruce Davis, Cheyenne Barton
Trilha Sonora Original: Erick Alexander, Jared Bulmer
Roteiro: Andrew Patterson (como James Montague), Craig W. Sanger
Direção: Andrew Patterson
Cotação: 4/5

Uma das estreias mais instigantes dos últimos anos é a do jovem Andrew Patterson, que dá o pontapé inicial na direção para cinema com este A VASTIDÃO DA NOITE (The Vast of the Night, 2019), um longa que tem explicitamente um carinho muito grande pelos filmes de ficção científica da década de 1950 e pelas séries de televisão de cunho fantástico, e que faz uma homenagem ao estilo com uma embalagem bem mais moderna.

Afinal, filmes daquela época não teriam explorado tanto a conversa. E é o que Patterson faz, tanto que ele próprio tem lembrado da influência da trilogia de Jesse e Celine, de Richard Linklater, em seu trabalho. Mas nem tudo é conversa em A VASTIDÃO DA NOITE. O diretor se mostra muito preocupado com o aspecto visual. Tanto é que começamos o filme um tanto tontos com o que ele tem a oferecer. A princípio, senti uma falta imensa de uma tela grande de cinema, já que boa parte das cenas da primeira parte do filme são de planos gerais.

As primeiras cenas se passam em um ginásio onde acontece um jogo de basquete. Mais tarde saberemos que praticamente toda a cidadezinha de Cayuga, Novo México (uma cidade fictícia), está naquele local. E somos meio que jogados em cena, sem uma apresentação dos personagens. Esse tipo de recurso mais moderno não é exatamente novo, mas pode estranhar pelo fato de que o diretor parece querer incomodar os espectadores em muitos aspectos, inclusive com ruídos.

Há os ruídos da bola batendo no chão e do arrastar dos tênis dos jogadores, enquanto a conversa rola de maneira descontraída e realista. Os dois personagens principais são dois jovens: o radialista Everett (Jake Horowitz) e a operadora da central telefônica Fay (Sierra McCormick). Ela parece ter uma ligeira queda por ele, mas essa relação afetiva não chega a ser algo tão essencial para a trama. Durante uma passagem dos dois pelos carros em volta do ginásio, um ruído é notado ao fundo. E uma câmera subjetiva nos faz lembrar das experiências de Sam Raimi em EVIL DEAD – A MORTE DO DEMÔNIO.

O uso da câmera é de fato um dos aspectos mais brilhantes do filme, embora seja algo que por vezes mais nos chame a atenção, a ponto de atrapalhar a compreensão e a imersão na trama. E ainda há a escuridão. Deliberadamente, Patterson usa muitas cenas escuras. Uma vez que aceitamos e nos acostumamos, a experiência é muito boa. Falando no clássico de Sam Raimi, há outro momento em que a câmera vai passear pela cidade durante a noite de forma bastante impressionante e que também lembra EVIL DEAD, por mais que, adiante, possamos nos perguntar sobre a função dessa cena para o filme, de sua real necessidade para a narrativa.

Até porque a força de A VASTIDÃO DA NOITE acontece em interiores, e durante ligações entre os dois personagens, cada um em seu local de trabalho. O ponto de partida para que o filme amplifique a trama se dá quando Fay ouve estranhos ruídos pelo telefone. E resolve mostrar para seu amigo Everett aquilo que conseguiu captar. O jovem radialista, por sua vez, resolve mostrar esse ruído para sua audiência. Imediatamente, ele recebe uma ligação de um homem que diz saber o que é aquilo.

O interessante é que o ruído só ganha força e importância porque os personagens dão a ele importância. É o caso clássico de filme que brinca muito com as reações principalmente faciais de seus personagens e lhe convida para entrar no jogo e ficar tão preocupado, tão interessado, tão intrigado e tão empolgado quanto eles.

Em tempos pandêmicos, é uma alegria poder ver uma estreia (ainda que direto no streaming, no caso o Prime Video) que esteja provocando tantas reações positivas entre cinéfilos, críticos de cinema e apreciadores do gênero ficção científica.

Ailton Monteiro

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