Filmes Review - DVD e Blu-ray

Resenha de Blu-ray: O QUINTO ELEMENTO (UHD BD 4K BR)


Produção: 1997
Duração: 126 min.
Direção: Luc Besson
Elenco: Bruce Willis, Milla Jovovich, Gary Oldman, Ian Holm, Chris Tucker, Luke Perry, Brion James, Tom Lister Jr., Lee Evans
Vídeo UHD BD: Widescreen Anamórfico 2.40:1 (2160/HEVC/H.265/HDR 10) ****
Vídeo BD: Widescreen Anamórfico 2.40:1 (1080p/MPEG4 AVC) ****
Áudio UHD BD: Inglês (DTS-HD Master Audio 5.1), Português (DTS-HD Master Audio 5.1) ****
Áudio BD: Inglês (DTS-HD Master Audio 7.1, DTS-HD Master Audio 2.0), Português (DTS HD HR 5.1) *****
Legendas: Português
Filme: ***½
Embalagem & Extras: ****½

Nº de discos: 3 (UHD-BD 100 GB, BD 50 GB e DVD)
Região BD: A
Distribuidora: Obras Primas do Cinema
Lançamento: 26/09/2021
Avaliação Geral: ****

SINOPSE
Nova Iorque, século vinte e três. A Terra está prestes a ser destruída por uma enorme bola de fogo que é a essência do Mal. Cornelius (Ian Holm), um velho monge, sabe como parar a esfera em chamas: o Quinto Elemento, o Ser Supremo, que une os quatro Elementos básicos – Ar, Água, Fogo e Terra – deve ser convocado porque é o único ser que pode parar o mal que se aproxima. Cornelius recebe a ajuda de Korben Dallas (Bruce Willis), um motorista de táxi e ex-agente secreto, e de Leeloo (Milla Jovovich), uma alienígena na forma de uma bela jovem. Muitas aventuras aguardam o trio enquanto eles partem para salvar a humanidade e lutar contra o vilão Zorg (Gary Oldman) e seus aliados, os terríveis Mangalores.

ATENÇÃO: as imagens desta resenha são meramente ilustrativas, não refletindo a real qualidade da imagem nos respectivos discos.  

COMENTÁRIOS
O diretor francês Luc Besson é conhecido por uma filmografia que, para horror de parte da crítica de seu país, sempre flertou com o cinema de entretenimento americano. Acima de tudo suas realizações são sempre de produção bem cuidada, com um apurado estilo visual. Entre os seus filmes, este O Quinto Elemento (The Fifth Element) pode ser considerado o mais extravagante – uma ficção científica absolutamente pop, com um desenho de produção muitas vezes camp que lembra os quadrinhos, e abundantes efeitos visuais (algo que tentou repetir com o posterior – e inferior – Valerian e a Cidade dos Mil Planetas). Alie-se a isso uma trama que trata do clássico confronto entre o Bem e o Mal, porém conduzida de forma irreverente e bem humorada, e temos a impressão de estarmos vendo um daqueles delírios cinematográficos europeus dos anos 1960 tipo Barbarella e Diabolik. Sem dúvida, uma mistura que por vezes, por mais empolgante que seja, pode ser indigesta.

O Quinto Elemento é um projeto que o diretor concebeu quando ainda estava na escola, tendo levado 20 anos para conseguir realizá-lo mantendo toda a essência da ideia original – um espetáculo visualmente fascinante, leve, muitas vezes tolo, tendo os gibis e os filmes sci-fi americanos em seu núcleo. Os efeitos visuais, em especial, procuram fazer essa ligação, e por incrível que pareça, 24 anos após seu lançamento, eles ainda resistem bem, sendo adequados ao tom por vezes cartunesco da produção. Também merecem destaque os figurinos do famoso estilista Jean Paul Gaultier e o criativo desenho de produção do célebre designer francês Jean ‘Moebius’ Giraud.

Bruce Willis estrela como o sarcástico e relutante herói, em papel típico dos seus filmes de ação – continua “duro de matar”, porém agora às voltas com carros voadores e alienígenas esquisitos. Mas a partir da entrada em cena de Milla Jovovich como a sexy super-heroína Leeloo – papel que a consagrou internacionalmente e também lhe rendeu um casamento com Besson (a atriz parece gostar de casar com diretores, atualmente é esposa de Paul Anderson, que conheceu quando ele a dirigiu no primeiro longa da franquia Resident Evil) – não temos dúvida de que o filme é dela, então no auge dos seus 21 anos. Dificilmente alguém não é conquistado por sua adorável personagem, que transmite ao mesmo tempo sensualidade, vulnerabilidade, força e graça. É claro, no final Korben e Leeloo vão ter um envolvimento romântico, e a mensagem que o filme deixa é de que o amor é a maior arma contra a violência e o Mal.

O elenco também conta com os respeitáveis Ian Holm e Gary Oldman (este, como o vilão), que provavelmente devem ter se divertido à beça nas filmagens. E falando em diversão, o humorista Chris Tucker interpreta o inacreditável DJ Ruby Rhod, que com sua voz aguda e roupas drag encaixa-se perfeitamente no universo ridículo, mas ao mesmo tempo adorável criado por Besson.

SOBRE O UHD BD
No momento em que as grandes distribuidoras lançam cada vez menos mídias físicas no Brasil, as independentes procuram ocupar seu espaço com produtos diferenciados e de nicho, que possuam grande apelo junto aos colecionadores. Versátil e Obras Primas do Cinema, em especial, lançam edições em DVD e Blu-ray com embalagens caprichadas e via de regra com ótima qualidade técnica, e coube à última a primazia de lançar, após alguns atrasos, o primeiro filme em UHD BD (popularmente conhecido como “Blu-ray 4K”) no Brasil: O Quinto Elemento.

Este cult, desde sua chegada em DVD no final dos anos 1990 (que já tinha vídeo anamórfico e áudio multicanal), sempre foi um título de referência para os adeptos do home theater. Isto se manteve nas posteriores edições Superbit e “Definitiva”, até que o filme foi um dos que inauguraram o então novíssimo formato de alta definição da Sony, o Blu-ray, em 2006. No entanto, a decepção nos mercados em que foi lançado (EUA e Japão) foi grande: a Sony utilizou um BD de camada simples (25 GB) e a mesma transferência MPEG-2 das versões anteriores em DVD, e segundo consta o ganho de qualidade era muito pequeno para compensar o upgrade. Como resultado, em julho de 2007 O Quinto Elemento tornou-se o primeiro relançamento da era Blu-ray, e que chegou também aqui utilizando uma transfer remasterizada 1080p/AVC MPEG4, em um disco de dupla camada (50 GB). Em 2015 o filme foi novamente relançado em Blu-ray no exterior, trazendo uma vibrante faixa sonora Dolby Atmos, e posteriormente também ganhou edições em UHD BD da Sony (EUA) e StudioCanal (Europa).

Não conheço as edições lançadas lá fora, e deduzo, pelos créditos do filme que estão em francês, que esta edição 4K toma por base o lançamento europeu da StudioCanal, porém com uma apresentação bem diferenciada. Os três discos (UHD BD, BD e DVD) estão acondicionados numa embalagem Digipack com belas artes externas e internas, envolta numa luva de cartolina com textos em relevo. Adicionalmente, o box é acompanhado por seis cards, um caprichado livreto com muitas imagens e informações sobre a produção, dois pôsteres oficiais (que felizmente não vem dobrados, mas sim enrolados em um invólucro de cartolina à parte), e um envelope (réplica do que é enviado no filme a Korben Dallas) contendo um adesivo, um “Comunicado da Federação” dirigido ao comprador e um “Multi Pass” (identidade plástica) da Leeloo. Todos esses mimos, obviamente, se refletem no preço, que é de salgados R$ 300,00 no lançamento, mas trata-se de um item diferenciado que, se fosse importado do exterior, facilmente custaria o triplo para o colecionador.

Imagem
Indiscutivelmente é aqui que este lançamento em 4K de O Quinto Elemento se destaca, em relação aos que vieram antes em DVD e BD. Beneficiado pelo elevado bitrate do UHD BD, pela ultra definição e o HDR 10, o filme de longe ganhou sua melhor edição nacional em home theater até hoje. As cores da transferência 2160/HEVC/H.265 são deslumbrantes, revelando por inteiro a paleta pretendida por Besson. Os pretos são sólidos, e os detalhes na maior parte do tempo são refinados e altos. A granulação inerente à película 35mm é realçada, mas nunca a ponto de ser intrusiva. Artefatos de compressão, riscos ou danos de película simplesmente inexistem, demonstrando a qualidade do remaster/restauração em 4K, feito a partir dos negativos originais. Dito isso, ocorrem inconsistências e certa perda de nitidez principalmente em alguns segmentos de composição de efeitos visuais, mas isso é inerente à fonte original, e portanto inevitável. Afinal estamos falando de um filme lançado há mais de duas décadas, ainda na transição do analógico para o digital, e por isso O Quinto Elemento nunca será tão visualmente atraente quanto um longa atual rodado e finalizado com equipamentos de ponta. Além disso esta edição da Obras Primas do Cinema não traz o recurso Dolby Vision, que em relação ao HDR 10 traria melhoras de brilho e contraste para aqueles que possuem TVs compatíveis.

E aproveito este gancho para comentar aquela que foi minha maior surpresa com este lançamento: notei pouca diferença entre a imagem do UHD BD e a do BD, que utiliza o mesmo remaster 4K, apenas com downgrade para 1080p. A estabilidade, os ótimos detalhes finos, a saudável granulação fílmica, os pretos fortes e as cores deslumbrantes, tudo está lá, e provavelmente só notaremos as vantagens propiciadas pela ultra resolução e o HDR caso feita uma comparação lado a lado. Analisados separadamente, pelo menos nos equipamentos utilizados (TV Sony Bravia 65″ XBR 905E, reprodutor LG UBK90 e receiver Denon AVR-S750H), não percebi diferenças dignas de menção, o que me levou a dar a mesma nota à apresentação visual em ambas as mídias. Particularmente, neste aspecto, já me contentaria apenas com o BD, caso ele fosse vendido separadamente – e que, como veremos a seguir, ainda por cima tem uma vantagem “audível” em relação ao UHD BD. Em tempo, uma rápida menção às legendas disponíveis em todos os discos: apenas em português, brancas e em tamanho um pouco inferior ao padrão. Isso não chega a incomodar, mas particularmente preferiria legendas maiores.

Som
O disco 4K, além da dublagem original em português, possui uma faixa lossless DTS-HD MA 5.1 em inglês que, apesar de não ser ruim, fica muito atrás da Dolby Atmos disponível no exterior – que é considerada, unanimemente, uma das melhores no formato. A exemplo da falta do Dolby Vision, provavelmente a Obras Primas também limou o Atmos da edição para não ter que pagar os royalties adicionais cobrados pela Dolby, o que encareceria ainda mais o produto. O problema é que a faixa DTS-HD MA empregada é, na falta de um termo melhor, “anêmica”. Falta peso aos graves, os efeitos surround são discretos e alguns elementos do áudio, como a música, foram mixados em volume baixo, levando-me a ter que ajustar o controle do receiver algumas vezes. E aqui, mais uma vez, a versão em BD do filme me surpreendeu: além de trazer a mixagem original do cinema em estéreo 2.0 e a dublagem clássica em português com 5.1 canais, temos uma faixa DTS-HD MA 7.1 em inglês que é superior à equivalente do UHD BD. O som de um modo geral é mais robusto, os graves mais potentes, o volume da mixagem está em níveis corretos e os dois canais adicionais propiciam um maior envolvimento direcional. Com o upmixer DTS Neural: X ativado no meu receiver, em algumas ocasiões houve até uma simulação quase perfeita de deslocamento sonoro vertical. Agora fica a pergunta: porque esta mixagem não está no UHD BD, mas sim no BD? Mistério. No momento em que seria lógico presumir que pelo menos as faixas principais DTS-HD MA dos dois discos fossem idênticas, não descarto a ocorrência de um erro de autoração no UHD BD, merecedor inclusive de um recall por parte da distribuidora.

OS EXTRAS
Para este primeiro filme lançado em mídia física 4K no Brasil, a Obras Primas incluiu uma coleção até respeitável de suplementos, mas apenas em resolução SD (e alguns inclusive com qualidade de imagem precária), distribuídos no BD e no DVD que estão no box (o UHD BD traz apenas o filme). Os vídeos possuem imagem no formato de tela 4:3 ou 16:9 e áudio em inglês, todos com a opção de legendas em português:

BD

  • Making of (24 min.) – Documentário produzido à época do lançamento do filme, abordando vários aspectos de sua produção;
  • Trailer Original (1 min.) – Trailer de cinema, sem restauração aparente.

DVD

  • Imaginando “O Quinto Elemento” (5 min.) – Segmento dedicado principalmente aos efeitos do filme;
  • Os Mangalores (9 min.) – Uma visão geral sobre a criação e as filmagens dos alienígenas protetores do Quinto Elemento;
  • Os MangaloresCenas extras (2 min.) – Dois testes de câmera destas criaturas;
  • Os Mondoshawans (8 min.) – Já este segmento é dedicado aos feiosos caçadores de recompensas que perseguem Leeloo e Korben;
  • Os Mondoshawans – Testes de Cenas (3 min.)- Três testes de câmera destes alienígenas;
  • Picasso (4 min.) – Uma curta olhada no mascote animatrônico de Zorg;
  • Os Strikers (3 min.) – Um breve vídeo sobre algumas criaturas que ficaram de fora do corte final;
  • Os Strikers – Testes de Cena (1 min.) –  Quatro pequenos testes de cena com estes alienígenas;
  • Os Elementos Digitais (9 min.) – Mais um featurette dedicado aos efeitos do filme, bem como à criação da maquete da Nova York do futuro;
  • Diva (16 min.) – Featurette dedicado à operística alienígena azul que se tornou a marca registrada do filme;
  • Diva – Cenas de Arquivo (8 min.) – Quatro testes de câmera com a cantora de ópera que literalmente é de outro mundo;
  • Os Estilos do Filme (5 min.) –  Segmento focado no figurino criado por Jean Paul Gaultier;
  • Estilo de Moda do Filme (7 min.) – Basicamente uma continuação do vídeo anterior, com mais do trabalho de Gaultier;
  • Estilo de Moda: Teste Korben Dallas e Leeloo (5 min.) – Quatro testes de figurino com Bruce Willis e Mila Jovovich;
  • Entrevista com Bruce Willis (4 min.) – Willis comenta sobre sua atuação, o diretor e o estilo futurista do filme;
  • Entrevista com Chris Tucker (4 min.) – Tucker discute sobre seu personagem, figurino, como foi trabalhar com seus colegas de elenco, etc.;
  • Entrevista com Mila Jovovich (12 min.) – Jovovich relembra seus testes, a linguagem alienígena de Leeloo, as características de sua personagem, as cenas de ação, seu trabalho com Bruce Willis, e por aí vai;
  • Mila Jovovich – Testes (12 min.) – Nos quatro testes de câmera mais interessantes dos extras, Jovovich namora a câmera de Besson usando modelitos reveladores;
  • Elementos Visuais (18 min.) – Featurette que aborda aspectos como as inspirações estilísticas do longa e o trabalho no desenho de produção dos famosos quadrinistas Jean Claude Mezieres e Jean Giraud;
  • Elementos Visuais – Testes para Cenário (6 min.) – Sete testes de câmera em diferentes cenários do filme.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se você ainda coleciona mídia física e tem televisor 4K e reprodutor de UHD BD (dedicado ou um console de videogame), fica difícil deixar de recomendar esta edição – ainda mais se você valoriza embalagens diferenciadas e brindes que acompanham o produto. A iniciativa da Obras Primas deve ser louvada, ainda que haja espaço para melhorias, como nesta questão da faixa de áudio subdimensionada do Blu-ray 4K. Resta agora esperarmos o próximo lançamento nacional em ultra definição, que em princípio deveria sair ainda este ano mas até agora não foi anunciado. Tudo indica que terá por base outro título da StudioCanal, sendo que os mais cotados são dois filmes com Arnold Schwarzenegger – O Vingador do Futuro e O Exterminador do Futuro 2 – O Jugamento Final.

Jorge Saldanha

2 comentários em “Resenha de Blu-ray: O QUINTO ELEMENTO (UHD BD 4K BR)

  1. Rafael Rabelo

    Muito bom o texto do review. Um ponto que fiquei curioso é sobre a compressão de imagem, se a OP usaria também a compressão feita para o UHD da StudioCanal realizada pela Fidelity In Motion. Não sabemos mais detalhes de como foi essa autoração.

    Curtir

  2. ca1701

    É louvável este lançamento, magnífico! Mas quem paga 3.000 ou mais em um Blu Ray player 4k no Brasil?
    É uma pena, apesar do preço do O Quinto Elemento e saber que vale cada centavo, os equipamentos no Brasil são muito caros.

    Curtir

Comente o conteúdo da postagem

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.