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Resenha de Série: DOCTOR WHO – 12ª Temporada


O novo Mestre (Sacha Dhawan) e a Doutora (Jodie Whittaker)

Doctor Who – Series 12 (2020)
Elenco: Jodie Whittaker, Mandip Gill, Tosin Cole, Bradley Walsh, Sacha Dhawan, Jo Martin, Goran Višnjić, John Barrowman, Stephen Fry, Ian McElhinney
Roteiro: Vários
Direção: Vários
Cotação: 3,0/5

Atenção: caso você ainda não tenha assistido a 12ª temporada de Doctor Who, o texto contém SPOILERS!

Em 2018 a série Doctor Who retornou com sua 11ª temporada, que foi basicamente um reboot da nova fase iniciada em 2005. Chris Chibnall (Broadchurch) substituiu Steven Moffat como showrunner e principal roteirista, o Doutor virou Doutora (Jodie Whittaker), Segun Akinola assumiu a composição das trilhas sonoras no lugar de Murray Gold, a maior parte da equipe técnica mudou, a TARDIS ganhou uma nova repaginada interior e a Senhora do Tempo ganhou como companheiros de aventuras um trio fixo e etnicamente variado – Yasmin Khan (Mandip Gill), Ryan Sinclair (Tosin Cole) e Graham O’Brien (Bradley Walsh).

Nesta nova fase, quase nada sobrou das eras Russell T. Davies e Steven Moffat, ou mesmo das temporadas clássicas do programa. Os arcos multi-episódicos foram abandonados, e em cada história a ficção científica e a aventura foram meros panos de fundo para discutir temas social ou politicamente relevantes/corretos, ou ainda para focar em tramas pessoais de cada companheiro de viagens da Doutora, que em vários episódios mais parecia uma coadjuvante. Apesar das boas críticas, muitos fãs reclamaram e Chibnall, no episódio especial de Ano Novo de 2019 “Resolution“, parece tê-los ouvido. As ações do episódio foram conduzidas pela Doutora, e depois dos alienígenas desconhecidos da temporada tivemos a volta dos vilões mais tradicionais da série, os Daleks.

Já esta 12ª temporada, estreada no Reino Unido em 1º de janeiro e disponibilizada no Brasil pelo streaming Globoplay, manteve a linha do especial e foi além, pegando mais leve no politicamente correto e não se intimidando a empregar o fan service em muitos dos seus 10 episódios. Para começo de conversa, os arcos de mais de um episódio estão de volta, e no duplo “Spyfall” o maior inimigo do Doutor/Doutora, o Mestre, retorna, agora interpretado por Sacha Dhawan (Punho de Ferro), revelando ter destruído o mundo natal dos Senhores do Tempo, Gallifrey. Os Judoon, os bizarros rinocerontes alienígenas criados por Russell T. Davies, reaparecem em “Fugitive of the Judoon”, episódio que antecipa a grande reviravolta que a série terá no final da temporada. Além do (breve) retorno de um dos personagens mais queridos dos fãs, o Capitão Jack Harness (John Barrowman, alertando para a chegada do “Cyberman Solitário”), temos o surgimento de uma versão desconhecida da Doutora (Jo Martin).

A Doutora e seus companheiros em “Spyfall Part 1”

Um dos episódios autônomos, “Praxeus”, traz a surpresa de ter duas personagens brasileiras – Gabriela (a portuguesa Joana Borja) e Jamila (a brasileira Gabriela Toloi). A partir de “The Haunting of Villa Diodati”, que se passa na noite em que Mary Shelley teve a inspiração para escrever o clássico Frankenstein, outros vilões tradicionais da série, os Cybermen, entram no arco principal da temporada, como prenunciado em “Fugitive of the Judoon” e que se encerrará em “Ascension of the Cybermen” e “The Timeless Children”. É neste último episódio que o Mestre, nas ruínas da Cidadela dos Senhores do Tempo, faz uma revelação polêmica e bombástica à Doutora: ela não é nativa de Gallifrey, mas veio como criança, há milênios, de uma outra dimensão ou universo.

“A Criança Atemporal”, referida pelo Mestre em “Spyfall Part 2”, foi encontrada por Tecteun, uma cientista da raça original de Gallifrey, que recentemente descobrira a viagem no tempo. A cientista a adota como filha, e após um trágico acidente ela descobre que a menina tem a habilidade de se regenerar em um novo corpo ilimitadamente. Tecteun fica obcecada em estudar essa característica, e após muitos anos e regenerações da criança, ela consegue agregá-la em si mesma, e posteriormente no restante da raça que ficou conhecida como Senhores do Tempo. Mas as regenerações dos Senhores do Tempo ficaram limitadas a 12, enquanto o Doutor/Doutora manteve esse poder de forma ilimitada. No entanto, suas memórias das múltiplas regenerações anteriores àquele que pensávamos ser o primeiro Doutor foram apagadas. Assim, a versão da personagem vista em “Fugitive of the Judoon” seria uma dessas antigas regenerações, o que explica o fato de nenhuma das duas lembrarem uma da outra, e mesmo o visual retrô do interior da sua TARDIS.

Ainda é cedo para avaliar o impacto que essas revelações terão no futuro da série. Se por um lado elas servem para justificar o que era considerado um erro na continuidade da série desde a sua fase clássica – a menção a mais de 12 regenerações do Doutor/Doutora -, por outro acarretam outras contradições no cânone da série. Como o fato de Clara Oswald (companheira dos 11º e 12º Doutores) ter visitado todas as regenerações do Doutor, sendo a primeira aquela interpretada por William Hartnell, que estreou junto com a série original em 1963. Também contradiz o fato de River Song (filha de Amy e Rory e esposa do Doutor) ter adquirido a capacidade de regenerar por ter sido concebida no Vórtice Temporal, a bordo da TARDIS.

A 12ª temporada só irá se encerrar com o especial de Ano Novo de 2021, “Revolution of the Daleks”, mas desde já pode-se dizer que Doctor Who está pelo menos tentando acertar o rumo para retornar à sua rica mitologia, à diversão e à ficção mirabolante, elementos que há décadas vem conquistando milhões de fãs em todo o mundo.

Jorge Saldanha

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